junho 29, 2010

Pode ser que passe!

Agora só falta povoar o silêncio.Tapar com risos o barulho do vazio que se faz ouvir mais que nunca. Cobrir as paredes com fotografias parvas do beijo à homem-aranha ensaiado no chão da sala. Ou do ramo lindo de túpilas oferecidas no dia em que fugimos à hora de almoço para fazer amor.
Falta que me sujes a cozinha toda, na tentativa esforçada de cozinhar uma refeição especial, porque vou à frente no Campeonato das Surpresas Privado que organizámos. E marcar meio ponto a mais pela sobremesa, deliciosamente surpreendente…

Falta partilhar a manta no sofá. As emoções da última temporada do Dexter. O colo em que repouso e, por fim, adormeço. O colo em que confio. E dar o meu. Passar as dedos, suavemente, demoradamente, pela cabeça que sei cansada com as exigências do mundo. Acariciar-te, porque sei das tuas batalhas e da força que inventas para pareceres bem mesmo quando não estás. E quanto mais te conheço, mais te respeito. Falta dizer-te isto.
Vem, deita-te aqui ao meu lado. Faltam umas mãos à volta da minha cintura na cama. A segurar-me como se ali fosse onde eu sempre devesse estar. Falta calor. A presença de outro corpo colado ao meu no encaixe perfeito de duas partes que são uma. Falta acordar e ver-te.







Andei tão enganada por tanto tempo. Tenho a vida que imaginei ideal. Silenciosa. Tão quieta. À minha maneira. Sem a intromissão de outras maneiras a atrapalhar. A desarrumar a minha vontade. A contrariar os meus apetites egoístas. Está tudo como eu quero. Quando eu quero.
Para descobrir,que afinal, assim não quero.
Já chega. Gosto muito de mim, mas estou a ficar sem assunto neste diálogos amonologados que tenho comigo própria. Falta a ajuda para o meu vestido azul, que nunca consigo apertar até ao fim. E para tratar dos grelhados nos fins-de-semana com os amigos. Não quero ser sempre eu a desligar a televisão. Ou a luz da casa-de-banho. Já não tem piada dormir de peúgas…

Falta medir a altura contigo. Crescermos os dois juntos, a ouvir cada centímetro nascido da nossa união. Falta compreender que há muito mais para lá das nossas grandes perdas ou pequenos ganhos. Que a vida não é o resultado de somas e subtracções. Falta entender que é a dividir que se dá o milagre e tudo multiplica.
Falta experimentar contigo esta magia. E todas as outras que sei. Levar-te pela mão ao mundo que já não quero só meu.
Falta amor.
Daquele tipo que me faz escrever sobre beijos à homem aranha e festinhas na cabeça. Esse amor. Que não tem vergonha. Que fala. Que se mostra. O Amor que se divide. E aumenta.
Estou aqui. Com o meu amor. Para ser dividido.
Agora, só faltas tu…


IdoMind
about loving and caring, hugging and kissig...and so what?


junho 16, 2010

A ver se nos entendemos

Não esperes por mim. Não dependas do meu não ou do meu sim. Por favor, não me obrigues a escolher por ti. Carrego já o peso suficiente de uma viagem que quis árdua. Não posso levar-te. Nem à bagagem que trazes contigo. Os desertos por onde já passei ficaram-me com tudo o que era inútil. E nas escarpas livrei-me do que podia levar-me ao abismo. Sei agora que o essencial não tem peso e que cada lugar tem uma pergunta para nós.

Ainda que quisesse, não oiço as tuas perguntas. Estão codificadas pelos pensamentos que pensas. Pelos sentimentos que sentes. Pelas lembranças que relembras. São perguntas para ti.  Por isso, não te percas nas soluções dos outros. Depressa compreenderás que o mesmo remédio produz efeitos diferentes. Não escorregues no vomitado lógico de ninguém. A razão só faz verdadeiro sentido quando é filha da tua experiência.
Nem sigas a luz de uma lamparina qualquer. De outra fé que não a tua. Aquela que te faz encostar o carro à berma ou esconder numa casa-de-banho e pedir baixinho “por favor, por favor ajuda-me, por favor”.  Essa fé. Que nem sabes a quem estás a dirigir. Talvez à vida que no fundo pressentes que cuida de ti. A fé que te vai revelar que não estás sozinho. E que tens sempre uma nova oportunidade.

A existência é demasiado vasta para que caminhes por cima das minhas pegadas. Firma as tuas. Imprime no Tempo o testemunho da tua vinda. E que as marcas que deixares falem da tua valentia frente a cada decisão de seres sagrado no profano.
É o que tento. Então, não me faças nem santa nem demónio. Sou só uma mulher a tentar chegar a Casa. Se soubesses da exaustão presa a alguns passos jamais me pedirias pressa. Jamais exigirias que chegasse à Hora que queres. 

Compreenderias que te compreendo mas que obedeço a outro ritmo. A outro relógio. E talvez fosses ao meu encontro. Talvez me trouxesses uma fatia de bolo de chocolate que partilharíamos sentados junto a uma árvore. Sem perguntas. Sem esperar nada. Só porque é bom comer uma fatia de bolo de chocolate comigo. Só porque gostas de me ver feliz. Só porque brilhas sempre que amas. Só por Ti.
Por nós, vive por Ti.
E deixa-me viver por mim.
Não me atinjas com a culpa de ter outros desejos. De sonhar. De ser Eu.
E eu não sou o que tu esperas. Nem posso.
Porque quem seria Eu, se todos esperamos coisas diferentes?

IdoMind
About getting things straight

junho 02, 2010

Estava eu tão sossegada!

Acabei de receber um pedido de ajuda por fax .
Alguém a narrar os seus infortúnios junto da Banca e das Finanças que conduziram à penhora do vencimento e da sua habitação. Alguém que desabafa que já não tem o que dar de comer aos filhos.
Não conheço a pessoa.
Explica que está a enviar este SOS para escritórios e empresas, reconhecendo que não tem vergonha de dizer que precisa de ajuda. O desespero engoliu o orgulho.
Pede-me 1 Euro.
Fiquei a olhar para o fax. Na parte final, senti a honestidade angustiante de quem já nada tem a perder e tenta, o que provavelmente nunca lhe havia passado pela cabeça,  expor a sua miséria. E esperar que alguém responda ao grito.
Pode ser logro. Pode ser mentira. Pode ser oportunismo.
Pode não ser.
E aqui fico eu, a tentar perceber que escolha me está a ser pedida.

As voltas que obrigámos o Universo a dar para que paremos. A vida que foi já não pode ser mais. Descurámos do essencial tão distraídos que ficámos com o supérfluo. A alma foi esvaziando à medida que enchemos os nossos frigoríficos com comida que deixamos passar de prazo.  Levámos o coração à fome para alimentar um vaidade fútil. Insaciável. Como ficámos pequenos nas nossas manias egoístas da uma grandeza oca.Tornámos-nos surdos uns aos outros ouvindo só aqueles e aquilo encaixável na nossa realidade de faz-de-contas.
Afogados na nossa fartura nem vimos que mesmo ali ao lado havia uma mulher com dois empregos...
Deixámos de nos preocupar com tudo excepto connosco. Até quando Damos pedimos factura para o IRS.
Guiados pela ambição, os pais abandonaram os filhos. Para lhes dar o melhor, deixaram de lhes Amor. E agora temos crianças que não sabem amar. E tão pouco sabem ser amadas. Não deixam. Negámos o dever sagrado de segurar as mãos das crianças. Aprenderam por isso a andar sozinhas.
Que esperávamos? Que confiassem? Que crescessem fortes? Seguras? Pois se não sabem quem são. Inventámos uma nova categoria de paternidade – Monoparentalidade. O nome é tão assustador quanto as suas consequências. Que estamos a receber.
E também temos agora uma nova categoria de Filhos – os Filhos de Fim-de-Semana. Criámos uma geração de crianças sem norte. Sem Pais. Mas com muitos brinquedos e roupa de marca. E ensinamos-lhes o que é competir logo no infantário…

Porque nos afastámos demasiado, estamos a ser forçados a fazer o regresso. Então a vida está a encarregar-se de nos nivelar. De nos trazer de volta a Nós. Perdemos-nos na viagem. Encantámos-nos tanto tanto com o fogo de artificio que não vimos a Terra a rachar ao meio. E lançámos mais umas canas. Para entretenimento, enquanto a dor de muitos era abafada pelo barulho da nossa festa particular.
Calou-se o ruído. Acabou-se o conforto do emprego estável e ordenado certo que nos mantinha na mediocridade de fazer só o necessário. Nunca mais. Nunca melhor. Nunca bem. Apenas o indispensável para afastar a atenção de nós.
Acabou-se o dinheiro para comprar os mesmos analgésicos contra a solidão.  Contra a falta de coragem para tomar as decisões que se impõem. Contra as noites mal dormidas a pensar noutra pessoa que não aquela que ali está a dormir ao nosso lado. Já não dá para esquecer o assunto com um par de botas novas ou aquela viagem ao Brasil.
Caímos dos nossos pódios feitos de areia e ficámos todos da mesma altura.
A tua aflição é agora a minha. E a minha a de todos. Eu e tu e todos a perceber, finalmente, que somos IGUAIS.
Agradeço por isso a crise. Este pedaço difícil de estrada. Todos os fins de mês que parecem nunca mais chegar. 
Abençoo a dura prova de aceitar o que não podemos mudar. 
A impermanência que nos leva a pedir milagres.
E a enviar faxes a pedir 1 Euro.
IdoMind
about all the good hidden in the worst  

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