Admiro as pessoas que não acreditam em nada. Que não precisam de Deus para justificar uma vida, sempre curta demais. Árdua tantas vezes. Atravessam as tempestades agarrados ao barco, de unhas pregadas nos remos, contando apenas com a sua própria força. Sem confiar nas marés que mudam. Sem olhar para as estrelas. Sem escutar os ecos das memórias entoados para nós pela eternidade que há em tudo. Lá se levantam um dia atrás do outro. Lá andam. Lá fazem o que lhes ensinaram a fazer. O que todos fazem. Só existe o que cabe dentro dos olhos. E dificilmente concebem o que os sentidos não reconhecem.
Conheço muita gente que não acredita em nada. Quando as deixo, fico sempre a pensar como conseguem configurar que toda a nossa perfeição, toda a nossa complexidade não sirva qualquer outro propósito além de comer, procriar e, no fim, morrer. Assim, sem mais nem menos. Que os pouco mais de 85 anos que duramos, se reduzam unicamente a uma demonstração da nossa valentia face às condições adversas que temos de enfrentar durante esta viagem em que nos vimos embarcados. Que não questionem porquê e de onde chegam tais adversidades. Os problemas do costume. As barreiras de sempre. O mesmo tipo de pessoa que nos dificulta o passo seguinte. A doença diagnosticada no momento menos próprio, arruinando os planos. Um filho tão diferente de nós. Que tem prazer em contrariar-nos e conduzir-se de forma desastrosa. Aquele telefonema que mudou o nosso dia. Ou aquele que mudou até a nossa vida.
Conheço muita gente que não acredita em nada. Quando as deixo, fico sempre a pensar como conseguem configurar que toda a nossa perfeição, toda a nossa complexidade não sirva qualquer outro propósito além de comer, procriar e, no fim, morrer. Assim, sem mais nem menos. Que os pouco mais de 85 anos que duramos, se reduzam unicamente a uma demonstração da nossa valentia face às condições adversas que temos de enfrentar durante esta viagem em que nos vimos embarcados. Que não questionem porquê e de onde chegam tais adversidades. Os problemas do costume. As barreiras de sempre. O mesmo tipo de pessoa que nos dificulta o passo seguinte. A doença diagnosticada no momento menos próprio, arruinando os planos. Um filho tão diferente de nós. Que tem prazer em contrariar-nos e conduzir-se de forma desastrosa. Aquele telefonema que mudou o nosso dia. Ou aquele que mudou até a nossa vida.
Eu vejo assim: foi preciso que um jovem baterista abandonasse os Açores, deambulasse pelas ruas de Lisboa até encontrar uma nortenha, baixinha e mau-feitio, para que EU estivesse aqui, uma infância atribulada mas espectacular depois, uma licenciatura na profissão que me fez crescer rápido depois, um divórcio engraçado depois, muitas quedas não muito engraçadas depois, a escrever sobre o sentido da vida.
Eu vejo, maravilhada, a quantidade de pessoas que entraram no jogo para que eu fizesse as minhas jogadas e, simplesmente, é-me impossível aceitar o acaso.
Eu vejo, maravilhada, a quantidade de pessoas que entraram no jogo para que eu fizesse as minhas jogadas e, simplesmente, é-me impossível aceitar o acaso.
Ainda que houvesse eventos fortuitos, porque diabo me estariam a acontecer a mim? Ou a ti. Aqueles. Não outros. Aqueles eventos fortuitos. Que nos obrigam a decisões diferentes das iniciais. Que nos levam noutra direcção. A avaria no carro que nos impede de chegar a tempo de assinar um contrato ruinoso. A farmácia fechada para obras que nos torna clientes da farmácia do lado onde encontrámos Aquela pessoa. O corte de energia no escritório que nos faz chegar a casa mais cedo e... que muda o nosso estado civil.
Se há coisa que me faz ganhar o dia é uma boa coincidência!
Sei que são Eles a dizer-me que não é bem por ali ou a confirmar que é mesmo por onde estou a ir. Que aquilo, pelo que estou esforçar-me tanto, não é para mim. Que é preciso largar. E não há problema. Mais adiante espera-me melhor. Maior. Mais adequado.
Reconheço toda a ajuda que recebi, sobretudo a que me esqueci de pedir, e o meu coração sabe, naturalmente sabe, que não ando por aqui desacompanhada.
Eu sei que sou mais que um corpo envolvido numa pele. Sou todos os corpos envolvidos numa única alma. Há bocados de mim em ti. É por isso que apareço quando precisas que eu apareça. Ou desapareço quando querias que eu nunca tivesse partido. É por isso que sinto as tuas dores e tu, mesmo que ainda não saibas ou não acredites, sentes as minhas.
Eu sei isto. Que somos a mesma coisa e que vamos para o mesmo sítio. Que não há fim. Nem fins. A única tragédia é desconhecê-lo.
Algures vou continuar a brincar ao faz-de-conta que é a sério. Levo daqui o bem que fiz. E algumas contas para pagar. Junto à colecção mais esta experiência de fé num destino inacabado e inacabável.
Eu acredito e tenho dias tão espinhosos. Sem a parte da flor. Custam-me tanto.
Eu acredito e tenho dias tão espinhosos. Sem a parte da flor. Custam-me tanto.
Como conseguem as pessoas que não acreditam em nada?
Admiro-as.
IdoMind
about the wonderful
Nota: Há pessoas que não acreditam em nada mas que vivem a sua vida como Mestres. Ensinam-nos, pelo exemplo, que o conhecimento ou crenças não são condição para a prática da bondade, da compreensão e do amor pelos outros. Não é sobre estes que falo aqui.