Mana, lembras-te de cantar para ti? Sob a ameaça veemente que se contasses, eu negaria e todos te chamariam mentirosa? Ontem, mais uma insónia. Suave, foi só até às 4 e pouco da manhã…tive muito tempo a pensar em muitas coisas. Ocorreu-me essa memória de nós. Eras tão gira. Amorosa até ao enjoo. Eu fria. Até ao arrepio... Vai bem longo o caminho desde esses tempos de te infiltrares na minha cama quando fazias asneira, tinhas medo ou querias só que eu te amasse…É tarde e rio comigo mesma porque no fundo nada mudou assim tanto. Mantenho nestes ossos, agora mais sólidos e já consolidados, esse registo de rigidez e um desejo de ausência de tudo o que me peça alguma entrega.
A cama continua resistente a infiltrações. Assim como Eu. Dou por mim a dizer-me que sou assim. Como se “ser assim” justificasse o conforto de não tentar ser melhor.
Continuo muito desperta. Nem um bocejo a anunciar a chegada de sono. Não me apetecia muito pensar no quero disto tudo. Bom era adormecer e amanhã quando acordasse isto tivesse passado.
Cheguei a uma estação que não me permite sentar-me a observar as chegadas e as partidas. Vou ter de embarcar. Vou ter de escolher um destino. Não gosto. Prefiro estar em todos os lados sem ter de estar em nenhum. Ou apenas num. A vida está a falar comigo e a dizer-me “Compromete-te. Aceita esta possibilidade de descobrir que uma existência enlaçada pode ser uma existência livre. Leve. Que ficar não significa parar. Nem entregar significa perder. Dar multiplica. É uma espécie de milagre que acontece a quem tem a fé suficiente para viver a sério. Não queres experimentar? Anda. Desembala-te e anda Encaixar-te”.
Como sinto uma pressão na barriga, sei que o meu desafio está aqui, no compromisso. Na chegada a horas ao trabalho de construir alguma coisa. De colocar depois todo o meu empenho nessa construção. De persistir. A luta para mim é manter-me com as costas viradas para trás. E o peito para a frente. Cravar pés na terra e aguentar os embates, sem desvios airosos. Descer o meu balão de ar e fazer algum turismo por aqui, onde anda toda a gente. Quem sabe até pedir um visto de residência…
Minha irmã, hoje cantaria para ti de novo. Se pedisses, é claro. Bem mais solta, sem as vergonhas ou os acanhos que tinha quando não gostava nada de mim. Mas continuaria a proibir-te de contar. Falta esse passo em direcção ao resto do mundo que não faz parte do meu mundo.
Só ainda fiz metade do percurso. Com muitos intervalos pelo meio. Encontrei-me com pessoas que não precisam de Deus para aceitar o combate de fazer o bem seja qual for o mal que as possa atacar. Pessoas que não precisam de ninguém para ser Alguém. Pessoas que baixam os braços de vez em quando e aprendem o valor da ajuda. Mostraram-me que todos temos as nossas lições. Feitas à medida.
Vi nos “ não consigo” delas os meus próprios e inspiraram-me a conseguir.
Vi nos “ não consigo” delas os meus próprios e inspiraram-me a conseguir.
Consigo isto. Plantar sementes. Muito íntimas. Impregnadas de mim. Não conseguia até ter começado.
E afinal é assim, a felicidade não se espera, começa-se.
E eu começo por dizer sim.
E eu começo por dizer sim.
IdoMind
about going a little bit further