abril 01, 2014

São loucas




De manhã, que medo, que me achasses feia!
Acordei, tremendo, deitada n'areia
Mas logo os teus olhos disseram que não,
E o sol penetrou no meu coração.

Vi depois, numa rocha, uma cruz,
E o teu barco negro dançava na luz
Vi teu braço acenando, entre as velas já soltas
Dizem as velhas da praia, que não voltas:

São loucas! São loucas!

Eu sei, meu amor,
Que nem chegaste a partir,
Pois tudo, em meu redor,
Me diz qu'estás sempre comigo.
Eu sei, meu amor,
Que nem chegaste a partir,
Pois tudo, em meu redor,
Me diz qu'estás sempre comigo.


No vento que lança areia nos vidros;
Na água que canta, no fogo mortiço;
No calor do leito, nos bancos vazios;
Dentro do meu peito,

estás sempre comigo

Amália Rodrigues, Barco Negro

IdoMind

about what sings to me

Perder para Ter






Vou falar-se sobre perder.
Primeiro uma casa.
Depois um homem.
E de perder o chão.
O emprego.
Quase todas as certezas.
Ficar sem um tostão.
Vai-se a força.
A paciência.
E por fim a fé...
Perde-se, acho que tudo,
menos a vida, que,
chegamos a querer perder até.

No fundo do poço
resta olhar para o Alto
e pede-se
um intervalo,
uma escada.
uma mão.
Neste render, me calo,
a resposta, se a há, tarda.
Ou talvez de tanto perder,
tenha perdido também
...A audição

Mas olha para mim,
meu irmão...
Aqui diante de ti, de pé.
Ainda é cedo
para a carne ferida,
mas a alma de tão Alta,
mesmo vergada,
quer-me erguida.
Viver é não ver o Fim,
nem até onde vai
a Descida.
É fé. É credo.
É transformar a terra,
na tua Subida.
E entretanto
perder

o Medo...

IdoMind

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